Confiabilidade dos dados geotécnicos e sua influência

Como os dados geotécnicos influenciam o modelo geotécnico? Uma discussão sobre a confiabilidade dos dados geotécnicos

O modelo geotécnico é a pedra angular de qualquer projeto geotécnico de mineração e, como tal, o nível de confiança e a confiabilidade são fundamentais. O nível de confiança deste modelo precisa ser proporcional ao nível de detalhe que está sendo aplicado ou estudo que está sendo realizado. O modelo geotécnico é composto por vários componentes e à confiabilidade dos dados subjacentes a esses componentes determina, em última análise, a confiabilidade deste (Read, 2013).

Sendo assim, o termo modelo geotécnico é amplamente utilizado e pode ter diferentes significados para as pessoas. Simplificando, tem-se que o modelo geotécnico é uma representação da junção dos modelos geológicos, estruturais, hidrogeológicos e dos maciços rochosos ou de solo (Read e Stacey, 2009). Entretanto, usualmente, o nível de confiança de cada componente varia, sendo dependente do ambiente geotécnico ao qual está inserido. Isso acaba por revelar uma importância variável e relativa de cada componente deste modelo. Portanto, o modelo geotécnico precisa ser adequado tanto para a complexidade quanto para o estágio do ciclo de vida do projeto (Dunn, 2014).

Terzaghi (Peck, 1969) e Casagrande (1965) adotaram uma abordagem de projeto observacional como requisito para a construção de um modelo geotécnico e atingimento de um nível de confiança. Para isso, era necessário:

  • Avaliação das condições mais prováveis e dos desvios concebíveis mais desfavoráveis dessas condições. Nesta avaliação, a geologia muitas vezes desempenha um papel importante.
  • Estabelecimento do projeto baseado numa hipótese de trabalho de comportamento previsto nas condições mais prováveis.

Já Stacey (2004 & 2009) vai na mesma linha apresentada por Bieniawski (1992), afirmando que uma incerteza mínima das condições geológicas estará sempre presente nos modelos empregados. Assim ambos os autores pregam a minimização da incerteza através da coleta de dados e informações. Como exemplo tem-se a caracterização do local, as propriedades da rocha e as condições de águas subterrâneas e das tensões in situ.

Entretanto, todos estes requisitos para atingimento de um nível de confiança adequado são descritos genericamente com foco na contabilização de possíveis condições e na redução da incerteza, sem apresentar claramente uma determinação mínima de quantidade e qualidade dos dados.

Assim, conforme Baecher & Christian (2003), há uma tendência para colocar o tratamento da incerteza em uma base mais formal, em particular aplicando os resultados da teoria da confiabilidade à engenharia geotécnica, exigindo assim uma adaptação especial para lidar com o ambiente geológico. Para isso, vários métodos estatísticos e probabilísticos podem ser usados tanto para organizar os parâmetros geotécnicos quanto para distinguir entre populações dentro ou entre diferentes domínios geotécnicos. No entanto, deve-se ter cautela com a tendência de se imaginar que “quanto mais informações estiverem disponíveis, melhor”, visto que, frequentemente, este não é o caso (Read, 2013).

Portanto, Baecher & Christian (2003) afirma que na prática da engenharia geotécnica, deve-se reunir apenas dados pertinentes para subsidiar a construção de um modelo que forneça as informações adequadas para avaliar corretamente as propriedades e características inerentes e variáveis dos materiais que estão sendo tratados. Dunn (2014) vai na mesma linha e aponta que a confiabilidade dos dados geotécnicos está ligada à quantidade, à distribuição espacial, à qualidade da coleta e à interpretação dos dados, englobando então, todo o processo produtivo de aquisição de dados e transformação para informação. No entanto, uma vez organizados, a questão final sempre permanece: quão confiáveis são os parâmetros? (Read, 2013). Sendo assim, temos que ter plena consciência das limitações das abordagens puramente racionais e dedutivas das condições incertas que prevalecem no mundo geológico geotécnico, não levando os resultados de testes de laboratório e cálculos analíticos muito literalmente. Baecher & Christian (2003) vão na mesma linha e enfatizam que o uso da teoria da confiabilidade dos dados não removem a incerteza e não aliviam a necessidade de julgamento ao lidar com o mundo, mas fornecem uma maneira de quantificar essas incertezas e tratá-las de forma consistente, permitindo assim uma melhor forma de descobrir como lidar com essa imperfeição dos modelos geotécnicos.

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