Impactos da mudança climática sobre a infraestrutura

fotografia chuva

Mudança Climática: Alteração dos níveis de precipitação, aumento da temperatura e eventos climáticos mais extremos e frequentes acabam por colocar em risco toda a infraestrutura que está envelhecendo. 

A mudança climática afeta tudo, desde geopolítica até economias e migração. Ela molda cidades, expectativas de vida e listas de vinhos (The Economist, 2021). Ela é uma ameaça que não vê fronteiras e pode prejudicar a todos nós. Em todo o mundo, as temperaturas e o nível do mar estão subindo. De incêndios florestais mais intensos a secas mais prolongadas e tufões recorrentes, grande parte do mundo já está sofrendo os impactos negativos de um clima em mudança. A mudança climática não é apenas uma ameaça existencial, está atualmente ameaçando o progresso do desenvolvimento (University of Sydney, 2019).

A infraestrutura é um caminho vital para alcançar os objetivos de desenvolvimento em todos os setores. Como o mundo cresce, avança e se desenvolve é construído sobre uma base de infraestrutura (Levinson, 2019). A infraestrutura é a espinha dorsal da economia global, um facilitador crítico da prosperidade e crescimento, que permite conectar pessoas, melhorar a qualidade de vida e promover saúde e segurança. 

Os ativos de infraestrutura normalmente incluem edifícios e instalações que permitem a entrega de serviços de energia, transporte, água e telecomunicações. Quando a infraestrutura falha, o resultado não é apenas danos diretos aos ativos, mas, muitas vezes, grandes efeitos socioeconômicos indiretos à medida que os serviços são interrompidos ou causam impactos ambientais significativos. 

Nos últimos anos, isso ficou mais evidente devido a eventos climáticos extremos que acabaram por destacar vulnerabilidades da infraestrutura instalada. Assim, como lidar com essa infraestrutura dimensionada considerando critérios não mais usuais? Ou, até mesmo, com estruturas que sofrem com o envelhecimento e a falta de manutenção? 

A partir dessas questões, este artigo visa apresentar uma breve discussão a respeito dos desafios que estamos enfrentando e que se intensificarão com o passar dos anos.

A ASCE (American Society of Civil Engineers) afirmou em 2020 que a infraestrutura dos EUA está envelhecida. As estradas estão desgastadas. As redes elétricas enfrentam maiores demandas. Uma porcentagem crescente de pontes tem mais de 50 anos. Além disso, adutoras, portos, ferrovias e barragens foram construídas há mais de meio século e apresentam sinais claros de envelhecimento e necessitam de vultuosos investimentos (vide o pacote de 2 trilhões de dólares assinado pelo presidente americano Biden no último ano). No Brasil, este cenário não é muito diferente, já que grande parte da infraestrutura existente foi desenvolvida durante a segunda metade do século XX.

Somente isso já seria um problema por si só. Porém as pequenas mudanças climáticas observadas, como chuvas mais intensas e frequentes, acabam por forçar esta infraestrutura existente que já não é suficiente para nos proteger dos eventos atuais e que fatalmente serão amplificados.

Logo, a junção de tais fatores acaba sendo um presságio para nossa capacidade de lidar com os riscos vindouros da mudança climática associado à infraestrutura em geral. Além disso, diversos pesquisadores ao redor do mundo projetam que as mudanças climáticas estão causando eventos climáticos mais extremos e mais frequentes, ameaçando ainda mais a infraestrutura crítica, gerando assim a necessidade de renovação ou reconstrução de sistemas de água, de energia, de águas pluviais, reservatórios, barragens, dutos, aeroportos, trilhos de trem etc. (Samaras, 2019). 

Portanto, com a intenção de exemplificar os desafios a serem enfrentados pode-se citar desde precipitações mais intensas a aumento de temperatura. A ocorrência de precipitações mais intensas pode impactar a infraestrutura da seguinte maneira:

  • há um aumento da velocidade dos rios, o que pode gerar erosões nas fundações de pontes, colocando-as então em risco (Temple, 2020);
mudança climática
Figura 1 – Erosão em fundação de pontes em decorrência da água. Fonte: O Correio (2021).
  • aumento de áreas e quantidade de deslizamentos de terra (Marks, 2020);
Figura 2 – Deslizamentos de terra. Fonte: Defesa Civil (2020).
  • necessidade de realocar estruturas para longe das zonas de inundação (Valix, 2020); e,
Figura 3 – Estrada dentro de zona de inundação. Fonte: Luxemburger Wort (2019).
  • necessidade de construção de barreiras contra tempestades, diques ou outras medidas de proteção (Levinson, 2020). 
Figura 4 – Zona inundada em decorrência da falta de proteção.

Como exemplo de tais tem-se o estudo desenvolvido por Lopez-Cantu (2018) que revela que grande parte dos bueiros urbanos dos EUA foi projetada com base em dados de chuva anteriores à década de 1960. E, como os níveis de chuva aumentaram em cerca de 70% nas últimas décadas no Centro-Oeste, na Costa Leste e na Costa do Golfo, isso implica que a infraestrutura de drenagem urbana é costumam ser estreitos demais para os padrões de precipitação atuais (Lopez-Cantu, 2018);

Já o aumento das temperaturas pode afetar desde estradas, a linhas férreas e prédios em estrutura metálica. Além disso, pode afetar toda a infraestrutura de água associado à demanda energética (Valix, 2020).

Figura 5 – Linha férrea submetida a temperaturas acima do dimensionado. Fonte: Railway News (2018).

Merkert (2020) cita que cada cenário coloca um estresse significativo nos ativos. Enquanto, o aumento da precipitação pode levar a danos na infraestrutura e escoamento do solo; a diminuição da precipitação pode levar ao aumento da poluição da água devido a uma queda nos fluxos de água; o aumento da temperatura do ar e da água leva a evaporação e corrosão de ativos, e um aumento do nível do mar pode afetar tanto a disponibilidade quanto a qualidade do abastecimento de água devido à intrusão de água salgada em aquíferos subterrâneos e redes de distribuição.

Temple (2020), cita que muitas vezes a reconstrução da infraestrutura é realizada, basicamente, da mesma forma e critérios, mesmo após enchentes, incêndios e outros desastres. Assim as mudanças climáticas estão forçando a infraestrutura envelhecida a operar em condições extremas.

Como forma de solução, Andersen (2020) cita que à medida que procuramos preencher a lacuna de infraestrutura e melhorar a qualidade de vida das pessoas em todos os lugares, é fundamental que:

  • invistamos em infraestrutura sustentável que se adapte às futuras condições climáticas, mesmo que incertas; 
  • contribuir para a descarbonização da economia; 
  • proteger a biodiversidade; e, 
  • minimizar a poluição. 

A infraestrutura sustentável é a única maneira de garantir que as pessoas, a natureza e o meio ambiente prosperem juntos.

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